
Entrei no ônibus e o barulho já estava me enlouquecendo, trocava palavras com uma amiga até que ela desceu e eu fiquei sozinha. O som estava ligado e estava tocando uma música que eu odeio com todas as forças da minha alma, pelo menos da parte que me é reservada ao ódio.
A sustentação daquilo que eu julgava normal dentro das minhas possibilidades de existir em paz com a tristeza foi quebrada, eu olho pela janela e o mundo está cada vez mais colorido do lado de fora, cheio de vida: Céu azul, folhas verdes de árvores balançando de leve com o vento... O sol brilha forte e eu nunca agradeci tanto por tê-lo presente para aquecer meu corpo, sentia que meu coração congelava aos poucos com o famoso inverno curitibano. Mas, em compensação, daqui do lado de dentro, dentro de mim tudo parece tão cinza quanto ou mais cinza que antes, meus olhos me mostram uma coisa, mas minha noção de lógica me faz acreditar que isso é irreal, uma dose errada de tudo; racionalidade e sentimentalismo já não convivem
Eu sei que posso transpassar essa barreira assim como posso ultrapassar esse vidro sem precisar me esforçar para abrir a janela, mas para isso, terei que me chocar com força á ela, e enfrentá-la de frente até que ela se quebre. Certamente irei sair machucada, sangrando. Certamente depois de anos ainda terei as cicatrizes. Talvez eu desmaie. Talvez não, mas nunca saberei se não tentar.
E tenho absoluta certeza de que logo estarei aqui contando sobre minha vitória, e descrevendo com detalhes o quão bonito pode ser o mundo real.