quinta-feira, 13 de maio de 2010

"Jardim de inverno"


Eu relutei em acreditar quando vi uma flor vermelha crescendo no jardim. Fiquei por horas observando-a sem saber ao certo o que fazer. Com a ponta dos dedos, toquei de leve suas pétalas macias, mas recuei pelo medo de me ferir novamente nos espinhos.
Ah os espinhos! Quem poderia imaginar algo como isso? Estão de volta!
E eu que acreditei inocentemente na minha teoria de que uma consciência supostamente amorfinada poderia acabar com facilidade com qualquer tipo de vida naquele lugar que até então era só meu... Todas as flores secavam antes de terem cor em suas primeiras pétalas... E os espinhos cresceram de novo! Malditos espinhos. Alguém tire-os daqui por favor?
Como sinal de uma nova estação qualquer jardim no mundo se reveste de novas cores, com seu estilo próprio de conquistar a atenção de quem o observa. Os aromas adocicados das flores trazem visitantes agradáveis como borboletas e pássaros... Eu vejo um pequeno milagre se realizar todos os dias quando com cuidado separo para o plantio sementes de gérberas brancas, e no fim de algumas horas avisto um belo canteiro repleto de rosas vermelhas. Antes de tudo a surpresa, e só então a alegria...

Somente lamento que meu egoísmo e minha falta de esperança tenham trazido esses espinhos novamente... Por favor, me ajude a enterrá-los para sempre.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Inconcebivelmente Inevitável

Aquela despedida foi como qualquer outra seria. Ou pelo menos como eu imaginava que fosse. Abraços, pedidos de desculpas regados a lágrimas e tudo mais que o momento pedia. Era mais um dia a ser vivido, mais um caminho a se percorrido e estávamos dispostos a tudo mais que fosse necessário para que aquele momento fosse tão esclarecedor para ambos quanto fosse possível.

Eu de cabeça baixa, cuspia toda a tristeza e pedia incessantemente que ele fosse capaz de me perdoar por toda aquela vida de erros. Sentados ali, olhando as ondas pequenas que o vento fazia na água, evitando ao máximo os olhos um do outro, nos lembramos do início de tudo.
Das brincadeiras bobas, dos passeios no parque nos finais de semana, das cartas, das confidências. Do dia em que fomos apresentados formalmente à família um do outro, daquele passado tão livre e sem sentido, que não trazia agora nem serenidade.

Alguns minutos se passaram com olhares silenciosos, enquanto eu descrevia meu crime e aguardava minha sentença.

Passei os dedos na gola de sua camisa, tomei coragem para olhar em seus olhos pela primeira vez, e após tudo, pedi desculpas.
Ele então, colocou o rosto próximo do meu pela primeira vez desde que chegamos ali e pediu que me calasse.

- Mas... Eu não poderia deixar tudo terminar assim sem te dizer, sem, sem te pedir que me perdoasse. - Eu dizia em tom de desespero, puxando cada vez mais a gola da camisa, numa tentativa inútil de me prender a uma esperança que já estava sepultada a anos.
- Mas você não tem culpa. - Respondeu indiferentemente.
- E como não? Eu entendo o que você fez. Sei que não foi bem vingança.. Eu mereci. - As lágrimas indiscretas entravam em cena, e ele também chorava.
- Tanto faz. Você sempre soube que a culpa não era só sua.
- Ainda assim... Me perdoa?

Os segundos se arrastaram enquanto eu lutava para não sair correndo dali. Minha mão agora puxava a gola da camisa dele com a força e o desespero de quem exige uma resposta rápida. Ainda assim ele me olhava suplicante, sem dizer absolutamente nada. Virou o rosto para o lado para não ter de me encarar.
Inconscientemente soltei a mão de sua camisa e passei a fitar o chão

- Me... Me perdoa? - Eu perguntei com a voz trêmula, olhos fechados, esperando um não e qualquer reação violenta.
Talvez mais um minuto houvesse se passado, mas toda aquela aflição fazia com que poucos segundos parecessem horas. Até que ele se virou, colocou a mão em meu ombro, olhou em meus olhos, respirou devagar e perguntou-me:

- Você vai ficar bem?
Sorri lentamente, tentando afastar a letargia que tomava meu corpo. Mais umas duas ou três lágrimas escorreram vagarosas procurando seu rumo, demorando-se muito logo abaixo de meus olhos. Eu as enxuguei uma por uma e por fim, respondi:

- Não.