terça-feira, 11 de maio de 2010

Inconcebivelmente Inevitável

Aquela despedida foi como qualquer outra seria. Ou pelo menos como eu imaginava que fosse. Abraços, pedidos de desculpas regados a lágrimas e tudo mais que o momento pedia. Era mais um dia a ser vivido, mais um caminho a se percorrido e estávamos dispostos a tudo mais que fosse necessário para que aquele momento fosse tão esclarecedor para ambos quanto fosse possível.

Eu de cabeça baixa, cuspia toda a tristeza e pedia incessantemente que ele fosse capaz de me perdoar por toda aquela vida de erros. Sentados ali, olhando as ondas pequenas que o vento fazia na água, evitando ao máximo os olhos um do outro, nos lembramos do início de tudo.
Das brincadeiras bobas, dos passeios no parque nos finais de semana, das cartas, das confidências. Do dia em que fomos apresentados formalmente à família um do outro, daquele passado tão livre e sem sentido, que não trazia agora nem serenidade.

Alguns minutos se passaram com olhares silenciosos, enquanto eu descrevia meu crime e aguardava minha sentença.

Passei os dedos na gola de sua camisa, tomei coragem para olhar em seus olhos pela primeira vez, e após tudo, pedi desculpas.
Ele então, colocou o rosto próximo do meu pela primeira vez desde que chegamos ali e pediu que me calasse.

- Mas... Eu não poderia deixar tudo terminar assim sem te dizer, sem, sem te pedir que me perdoasse. - Eu dizia em tom de desespero, puxando cada vez mais a gola da camisa, numa tentativa inútil de me prender a uma esperança que já estava sepultada a anos.
- Mas você não tem culpa. - Respondeu indiferentemente.
- E como não? Eu entendo o que você fez. Sei que não foi bem vingança.. Eu mereci. - As lágrimas indiscretas entravam em cena, e ele também chorava.
- Tanto faz. Você sempre soube que a culpa não era só sua.
- Ainda assim... Me perdoa?

Os segundos se arrastaram enquanto eu lutava para não sair correndo dali. Minha mão agora puxava a gola da camisa dele com a força e o desespero de quem exige uma resposta rápida. Ainda assim ele me olhava suplicante, sem dizer absolutamente nada. Virou o rosto para o lado para não ter de me encarar.
Inconscientemente soltei a mão de sua camisa e passei a fitar o chão

- Me... Me perdoa? - Eu perguntei com a voz trêmula, olhos fechados, esperando um não e qualquer reação violenta.
Talvez mais um minuto houvesse se passado, mas toda aquela aflição fazia com que poucos segundos parecessem horas. Até que ele se virou, colocou a mão em meu ombro, olhou em meus olhos, respirou devagar e perguntou-me:

- Você vai ficar bem?
Sorri lentamente, tentando afastar a letargia que tomava meu corpo. Mais umas duas ou três lágrimas escorreram vagarosas procurando seu rumo, demorando-se muito logo abaixo de meus olhos. Eu as enxuguei uma por uma e por fim, respondi:

- Não.

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