quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Dolorosamente real.



Não vou descrever o começo de meu dia, será doloroso demais até parar mim.
[...] Segui fazendo meus afazeres porque, sabia que, acontecesse o que tivesse que acontecer, morresse quem tivesse que morrer o mundo não pararia à minha espera.
À noite me vesti, me maquiei, e fiz as malas, estava impaciente por minha partida, e, para passar o tempo peguei o livro que começara a ler naquela manhã. Mas ela não chegava; Fiquei ainda mais impaciente, e para não me derrotar, para não acabar com minha indiferença à dor, continuei me mantendo ocupada, ela chegou e eu simplesmente olhei-a e disse: “Vamos?”, em resposta ela me disse que teria de cumprir
Outros compromissos antes de me levar. Então, desde meu 1º mergulho na inconsciência, pela 1ª vez decidi olhar no relógio. Eram quase 10 horas, seria quase um absurdo querer aparecer lá a essa hora de malas feitas, visto de que o limite de horário imposto por mim mesma para minha chegada era de 8 horas da noite; Nunca foi minha intenção que minha fuga repentina do meu mundo e da minha dor interrompesse a rotina deles. Sentei-me ao lado do telefone e disquei um número no qual eu teria a informação de como ele havia morrido. Ocupado. Avisei-a que não se apressasse em cumprir seu outro compromisso, porque eu não mais iria sair de casa. Prudência, temor ou comodismo? Nem sei ao certo. Liguei para a casa deles avisando que não mais apareceria lá, desliguei o telefone e fui para meu quarto. Estava com raiva, queria fugir, não da minha casa, nem de meus problemas, mas sim de mim mesma de da minha maldita imprudência. Minha casa sempre foi um lugar perigoso demais para mim, no meu próprio quarto eu sabia a exata localização de diversos aparelhos metálicos pontiagudos e porta-retratos de vidro, que poderiam muito bem ser lançados na parede e me induzir a uma recaída, mas, horas antes eu havia decidido que ferir física e psicologicamente a mim mesma só iria piorar a situação, seria a atitude mais egoísta que eu poderia ter agora, como eu havia dito de manhã a um amigo... “Eu não posso me dar ao luxo de fazer nenhuma besteira agora, tem muita gente precisando de mim”, realmente me livrar sozinha da minha dor seria muito egoísta, portanto, tirei essa idéia rapidamente de minha cabeça.
Dei alguns passos em direção ao espelho. Foi deprimente ver quanta influência ele teve sobre mim esses anos todos. Ele podia não estar próximo agora, mas seria para sempre um pedaço de mim. E naquele exato momento esta parte de mim estaria desejando morrer ou sucumbindo à tristeza, e nada do que eu fizesse iria mudar aquilo. Eu negligenciei os problemas dele por tanto tempo que uma aproximação agora seria dolorosamente impossível. Um turbilhão de pensamentos em minha mente e tudo isso só me deixava cada vez mais apavorada, meus olhos se encheram lentamente de lágrimas e eu chamei baixo pelo seu nome mesmo sabendo que ele jamais viria para me proteger novamente, para estar comigo. Agora era eu quem precisava fazer isso por ele. Sentia-me muito mal e embora meu corpo tentasse me derrubar minha convicção me manteria em pé por pelo menos mais 24 horas; Desfiz minhas malas me troquei e tentei dormir mesmo sabendo que naquelas circunstâncias, meus sonhos certamente não seriam agradáveis.

2 comentários:

Utopia disse...

Dentre todos os seus texros, este carrega um tom de total angustia e revolta....gostei, simplesmente amei...AHHH...não foi imprudência sua...foi imprudência de vc sabe quem...Mas sabe...a vida é assim mesmo...mto bom o texto!!!!

Jabuti disse...

Aí Luh, valeu mesmo, eu fico feliz por saber que eu realmente consegui passar ara o texto tudo o que eu estava sentindo no momento...
Eu nem sei se devo me sentir culpada pelas consequências de tantos erros, mas não me arrependo de nada do que eu fiz, e concordo contigo... o erro não foi só meu.

Só o que me assusta é ler isso e saber que tudo aconteceu de verdade...

Mas, aos poucos a vida volta ao normal (se é que já não voltou)

Brigadu mesmo Luhh, te adoro!