quinta-feira, 11 de março de 2010

E desde quando faz diferença?


Obriguei-me a levantar, e me arrumei rapidamente, sentei no sofá e fiquei olhando pela janela a noite escura que parecia não ter fim... Aquela manhã seria como todas as outras e eu já estava começando a me acostumar com tudo aquilo. O carro chegou e quando saí ainda haviam algumas estrelas pregadas no céu de veludo negro, que diminuía seu tom em um esverdeado claro acima das montanhas... Através dela o sol esperava ansioso para nascer a qualquer momento e deixar tudo aquilo menos amargo.
A aula acabou e decidi ir até a cozinha para comer algo...
Sentei-me em uma cadeira encostada na parede e comecei a comer o bolo... De longe ouvi o som crescendo... Aquela música! Aquela maldita música! A mesma com a qual ele havia me dito várias vezes que eu era única...
Ao som daquela maldita música ele me havia proferido palavras doces e eu me obrigava a fugir para evitar que ele sofresse... Eu nem acreditava, a trilha sonora dos momentos mais confusos da minha vida dos últimos dois anos inundava minha mente aos poucos com uma enxurrada de lembranças, espantando minha sanidade e plantando mágoas. Ele me olhava atentamente aguardando uma reação.
- Desligue, por favor - Pedi ainda calma.
- Não.
- Desligue, por favor - pedi novamente sem tanta paciência.
- Não.
- Desliga essa porcaria agora - Eu disse enquanto tentava acertar-lhe um chute
- Não, não vou desligar.
- Porque é que você não gosta dessa música? - A garota com rosto de boneca sentada ao meu lado perguntou-me. Sorri falsamente, como se fosse uma brincadeira.
- Desliga, por favor! - Pedi mais calma - Eu não quero chorar - Sussurrei.
- Você não devia chorar por coisas tão inúteis - Ele me respondeu friamente
- Se você prefere pensar assim...

Saí rapidamente... O sol agora já estava nascendo e a manhã já não parecia tão sombriamente triste... A luz inundava o corredor pela grande porta de vidro, e a claridade era tão pura quanto às lágrimas ali derramadas.

Não me importo com o que vai acontecer agora.
Ela irá lhe fazer feliz e eu lhe deixarei em paz...
Vou amarrar as pedras do passado em meus pés e me atirar nesse mar de isolamento que tem chamado por meu nome incessantemente.
A incerteza calará todos os meus gritos de agonia e as lágrimas serão então imperceptíveis.
Por muito tempo você não terá de se preocupar em livrar sua mente dos problemas que eu trago, e eu lhe manterei longe... Em minha vida agora só há espaço para mim e minhas lamúrias.

“[...] E eu não quero que o mundo me veja
Porque não creio que entenderiam
Quando tudo estiver destruído [...]”.
(Íris – Goo Goo Dolls)

2 comentários:

Luh disse...

=O Guria...eu amei o post, uma dose de realismo explícito, ,mto bom msm, honestamente, vc se superou desta vez...S2
"A vida tem uma maneira engraçada de te atrapalhar quando vc pensa que tudo está dando certo"...não podemos lutar contra essa lógica!
parabéns!

Luiz Henrique Vieira da Silva disse...

Parabéns, o texto está muito bem escrito. A descrição é excelente. Parece que estou lendo um bom conto.